Livre-arbítrio

“Como será amanhã?
Responda quem puder.
O que irá me acontecer?
O meu destino será como Deus quiser.”
(João Sérgio, “O amanhã”)

 

 

Recentemente li um livro que apresenta e analisa uma extensa pesquisa sobre o pensamento e a postura do brasileiro. Entre os vários itens analisados está um que me chamou a atenção: mais da metade da população acha que o seu futuro está, totalmente ou na maior parte, nas mãos de Deus.

Não vou usar nosso espaço aqui para discutir a metodologia da pesquisa, nem me aprofundar nas questões espirituais – o que cada um considera que sejam Deus e destino. Basta-me tomar essa informação principal e trazê-la para a gestão das finanças pessoais.

Vejo algumas pessoas justificarem seu pouco cuidado com as próprias finanças baseando-se em argumentos fatalistas. “Para que eu vou me preocupar em economizar migalhas se, de uma hora para outra, eu posso ter um contratempo mais sério e precisar gastar uma grana muito maior para tratar da saúde (ou consertar meu carro, ou consertar algo em casa), ou pior, posso morrer de uma hora para outra? Vou é curtir a vida.”

Esse argumento não é de todo errado. Realmente, não faz sentido a pessoa usar seu tempo e sua atenção para gerenciar as pequenas despesas e receitas do dia-a-dia e, por causa disso, deixar de viver as coisas importantes da vida, ou mesmo deixar de cuidar de coisas que fazem mais diferença nas próprias finanças pessoais – estudar, mudar de emprego, mudar de residência.

Mas o que eu adoto para mim e recomendo ao leitor é uma postura de cuidar dos próprios recursos que custe algum esforço, mas que não se torne um sacrifício. Isto é, que não lhe prive a condição e o prazer de curtir aquilo que realmente importa – as pessoas, vivências e emoções.

Atualizar minha planilha de controle financeiro me toma cerca de cinco minutos por dia. Quando eu a adotei, alguns anos atrás, tive dificuldade, precisei me esforçar, criar hábitos, como guardar os recibos de despesas com cartão e anotar o valor dos cheques que eu emitia. Hoje em dia praticamente não dá trabalho. E me permite conhecer meus gastos, ficar atento aos itens em que preciso economizar, usar melhor meu cartão de crédito, aplicar melhor meu dinheiro.

Essas atitudes, por si só, fazem uma imensa diferença na minha grana? Talvez não, mas fazem alguma. Mas o principal não é o “por si só”, não é o resultado imediato dessas atitudes, mas sim criar a tal postura de que falei acima. Cuidar naturalmente das pequenas coisas ajuda a cuidar das grandes e a adotar sempre a santíssima trindade da educação financeira.

Voltando ao argumento fatalista: é claro que todos estamos sujeitos a contratempos diversos. Mas gerenciar bem recursos como tempo e dinheiro pode trazer, no mínimo, um benefício: uma reserva para lidar com os imprevistos. E pode também evitar contratempos. Não é comum a pessoa ser multada por excesso de velocidade ou avanço de sinal vermelho, por estar com pressa? Gerenciar o tempo e andar sem pressa podem evitar isso. Não é comum a pessoa pagar multa por atraso no pagamento, ou juros no cheque especial, ou pagar mais caro por um produto na loja da esquina, que ela poderia ter comprado mais barato em outro lugar? Gerenciar os gastos pode evitar essa despesa extra. E, convenhamos, isso não está nas mãos de Deus.

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