Felicidade e finanças

“Pergunte-se a si próprio
se você é feliz,
e você deixa de sê-lo”

John Stuart Mill

 

Recentemente no blog meu amigo Frederico Torres escreveu um texto muito legal chamado “Você corre na Esteira da Felicidade?” Dois personagens, um muito mais rico do que outro, eram apresentados no seu relacionamento com a riqueza e com os bens. E não foi surpresa descobrir que aquele vivia de forma mais “feliz”, curtindo a família e a aposentadoria, era exatamente o mais “pobre” e que o mais rico, no seu mundo altamente competitivo, vivia dependente do seu enorme sucesso.

O texto me fez lembrar rapidamente de uma agradável leitura do passado, o livro “Felicidade”, do economista Eduardo Giannetti da Fonseca. Estruturado em forma de diálogos, o autor reúne quatro personagens, Leila, estudiosa de ética clássica; Otto, um economista liberal; Alex, um filósofo analítico; e Melo, um erudito historiador de ideais, para debater o que torna uma pessoa feliz. E um dos capítulos do livro – um dos diálogos – é justamente sobre indicadores objetivos e subjetivos de bem-estar e felicidade. Como, naturalmente, um dos indicadores é a renda das pessoas (e a gestão das suas finanças) resolvi explorar mais algumas ideias decorrentes do texto do Frederico.

O primeiro aspecto mais evidente é que há ganhos significativos de felicidade (ou bem-estar subjetivo) com acréscimo de renda na população mais pobre. Ou seja, até US$ 10.000 anuais (renda média de países como Irlanda, Portugal e Coréia do Sul), os acréscimos de bem-estar são visíveis. Mas depois disso estacionam. Muito mais dinheiro do que essa renda média já não compra mais felicidade. Curiosamente, a correlação entre renda e felicidade só volta a ficar fortemente positiva com rendas bem mais elevadas (cerca de US$ 80 mil anuais).

Uma interessante pesquisa realizada com mulheres em onze países revelou que 93% das entrevistadas se achavam em melhor situação do que suas mães e avós quanto a oportunidades e direitos (achavam que tinham mais renda disponível, por exemplo). No entanto, a maior parte (54%) não se considerava mais feliz do que as mulheres das gerações anteriores.

E outro estudo clássico com ganhadores de prêmios de loteria (em torno de US$ 500 mil) constatou que, ultrapassado o “pico” da euforia momentânea, os ganhadores não apresentavam níveis de bem-estar subjetivo superiores aos não-ganhadores e relatavam até desprazer ao realizar tarefas comuns do dia-a-dia.

O que parece ser a chave aqui – ou pelo menos em parte – para compreender a relação entre felicidade e finanças é que, no início, em um patamar de necessidade básico, qualquer acréscimo de renda tem um retorno de bem-estar significativo. É fácil constatar. A renda absoluta conta muito. Depois de certo patamar, atendidas as necessidades básicas, vale mais o que a gente chama de renda relativa. Ou seja, a situação em que você está em comparação com os demais. O que importa mais é como você se percebe em face dos outros e a opinião do seu grupo de referência.

E aqui o mais importante são os bens posicionais, ou seja, a infinidade dos tênis de grife, o smartphone mais moderno, a maior TV de led etc. São bens socialmente escassos e a grande maioria das pessoas não dispõe de renda para adquiri-los ou não pode ter o último modelo. Mas esses bens são realmente necessários?

A ideia do texto retoma o argumento do Frederico. Primeiro é indispensável se organizar financeiramente para cumprir bem a etapa das necessidades básicas. E aqui você já vai ficar muito feliz. Ultrapassada essa etapa, o que já não é pouca coisa nos países mais pobres, é possível pensar na obtenção de renda como um realizador de sonhos, de médio e longo prazo. Mais felicidade aqui.

Por fim, preocupe-se menos com a sua posição social e sem precisar ser avarento, faça como o personagem aposentado do texto do Frederico: curta mais a vida e a sua família.

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