A educação financeira cria consumidores e investidores melhores?

Recente reportagem do jornal Valor Econômico trouxe na sua capa chamada bastante forte: “A educação financeira é inútil”. Naturalmente, a chamada tinha o objetivo de atrair a atenção do leitor e de investigar as razões pelas quais a educação financeira não estaria funcionando e como ela poderia ser útil.

A reportagem foi baseada em uma pesquisa de um trio de pesquisadores, um deles o brasileiro Daniel Fernandes, mestre pela UFRGS, que avaliaram 201 estudos de campo, refazendo as estatísticas, e descobriram que tais intervenções de “alfabetização” financeira são responsáveis somente por 0,1% na alteração de comportamento do consumidor/investidor. E os efeitos são ainda mais fracos na população de renda mais baixa. Colocaram a política pública em xeque.

Segundo os pesquisadores, a instrução tem tido pouco efeito na prática – economizar, evitar dívidas, planejar a aposentadoria, fazer bons investimentos e não pagar taxas desnecessárias. Além disso, a conexão entre educação e conhecimento financeiro foi percebida como fraca. Aparentemente, outros domínios da ciência, como a matemática, provocam uma assimilação até 13 vezes superior à educação financeira.

A percepção do blog sobre a dificuldade do processo de educação financeira está bastante relacionada com o ambiente comportamental dos consumidores e investidores. O que é isso? A instrução financeira funciona – na maior parte das vezes – em situação de estresse, nas quais as pessoas têm volume restrito de energia, informação e recursos cognitivos e emocionais para dar conta de uma série de escolhas e decisões. A situação normalmente é de sufoco financeiro. Nessas situações, preocupado com a “sobrevivência”, a probabilidade é de não tomar as melhores decisões. E a situação se agrava no grupo de mais baixa renda.

Mas este é só um lado. O outro lado é o de quem passa a informação e proporciona a instrução financeira, obviamente. Seguindo esta linha da psicologia da escassez, o conteúdo e a sua forma devem se adaptar a este cenário. Pelo menos em parte.

Aqui vão algumas indicações. A primeira é o momento da intervenção. Quanto mais próxima do evento – da tomada de decisão – mais eficiente é a instrução. O estudo revela que 12 horas de instrução financeira dez meses antes da tomada de decisão equivalem a uma hora de informação imediatamente anterior ao evento.

Uma boa discussão aqui é que receber conhecimento muito antes do evento e em tempos de crescimento econômico valem muito pouco quando a crise acontece. Por isso, a informação é mais valiosa “just in time”, quando o consumidor está para tomar a decisão.

A segunda indicação – que se relaciona com a primeira – é que o processo de educação financeira que resulta em melhores resultados é aquele que começa mais cedo, com crianças e jovens. O comportamento aqui é muito mais maleável e a instrução não se dá na crise, no momento da tomada de decisão.

Por fim, a linguagem. Ela deve ser direta e objetiva. A linguagem deve ser acessível e fácil. Apresentar claramente o problema e proporcionar soluções concretas e inteligíveis. Quando possível, incorporar mecanismos – nas políticas públicas, por exemplo – que direcionem ou impulsionem as pessoas a tomarem boas decisões.  Como é o caso da inscrição automática em fundos de pensão, em que o funcionário tem que pedir para sair em vez de solicitar a sua inclusão ou de exigir um pagamento maior da fatura da cartão de crédito, reduzindo o endividamento excessivo.

A reportagem provoca a reflexão sobre a qualidade do processo de educação financeira. Como tornar a instrução mais eficiente e útil. Ao apontar problemas e aspectos negativos, salienta igualmente pontos positivos. É exatamente nestes pontos positivos que o blog tem apostado. Você como leitor o que acha? O blog tem lhe ajudado no processo de educação financeira?

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