Financiamento privado estudantil sempre vale a pena?

Estimulado pelo excelente post do meu amigo Daniel Loureiro sobre as mudanças no FIES e novas alternativas de financiamento estudantil resolvi debater um pouco mais o financiamento privado, com destaque para o retorno do investimento sobre educação. Penso que o assunto é importante e de enorme interesse para os jovens estudantes universitários no país.

O post do Daniel é muito ilustrativo ao comparar as novas opções do FIES e as alternativas do programa Pravaler [1], com o custo financeiro assumido pela faculdade (sem taxas de juros) e a situação no qual o custo financeiro (com taxa de juros) é bancado pelo aluno, em que taxa de juros pode chegar a 29,7% a.a.

Sabe-se que as mudanças no FIES irão afetar fortemente o financiamento público [2]. Com isso, o número de alunos que devem ser atendidos pelo FIES – incluindo o segundo semestre de 2015 – não chegará a 320 mil. Só em 2014, o programa atendeu 731 mil. Ou seja, estamos falando – em uma projeção simples – de um contingente de mais de 400 mil alunos sujeitos a demandar o financiamento privado [3].

Por isso, a alternativa do financiamento privado talvez seja a única para boa parte dos novos universitários. É inestimável o objetivo de perseguir uma boa educação, mas, ainda assim, algumas dicas podem tornar a opção mais equilibrada economicamente:

(i)   No programa Pravaler há um grupo de faculdades parceiras, que bancam integralmente, na maior parte dos casos (especialmente para calouros), a taxa de juros do financiamento. Isto permite aos alunos financiar o curso, pagando-o no dobro do tempo efetivamente cursado, sem juros. A única correção de valor é a aplicação do índice inflacionário (IPCA) sobre as mensalidades. Só a título ilustrativo, fiz uma simulação no site para a cidade de Belo Horizonte: há sete opções de faculdades parceiras [4].

(ii)   Uma das instituições parceiras do Pravaler faz uma publicidade, com dados do IBGE, destacando que a remuneração dos profissionais com nível superior é, em média, três vezes maior que a dos que não têm essa formação. Em dados do IBGE de 2011, o salário mensal de profissionais com ensino superior era de R$ 4.135,06 e, sem ensino superior, de R$ 1.294,70. O blog resolveu fazer mais. Com dados também do IBGE, de setembro de 2012, montamos uma tabela com rendimentos médios mensais das profissões mais tradicionais e ainda desejadas. Além de destacar, nas duas últimas, profissões mais disputadas pelo mercado atualmente:

 

Ocupação Rendimento médio
Médicos 9.490,87
Advogados 4.997,30
Engenheiros civis 6.604,33
Administradores 4.115,10
Jornalistas 3.237,42
Engenheiros em computação 6.378,60
Profissionais de biotecnologia 3.989,59

 

Salários médios mais expressivos podem ser um bom estímulo. Principalmente para quem precisará pagar o curso depois de formado. Mas inúmeros fatores influenciam. A tabela apresenta valores mensais médios, que variam com a localidade e o tempo de profissão. A qualidade do curso também importa. O quanto se paga no curso igualmente é um fator. Enquanto o curso de medicina tem custo médio mensal de R$ 6.000,00 (sem contar os materiais), o curso de direito, por exemplo, tem custo mensal de R$ 1.200,00. A diferença aqui, todavia, pode ser, além da remuneração média, a taxa de ocupação das profissões, abordagem do último ponto. Daí que a opção por novas profissões, requisitadas pelo mercado e que tendem a permanecer na fronteira, pode ser uma excelente alternativa de retorno sobre o seu investimento.

(iii)   E boa parte da remuneração mais expressiva está associada à chance de se conseguir o emprego durante e, especialmente, após a realização do curso. É o que a gente chama de empregabilidade. Fiz aqui nova pesquisa para saber os cursos com maior empregabilidade em 2015. São eles: medicina, com taxa de ocupação de 97,07%; odontologia; engenharia civil; arquitetura e urbanismo; matemática; engenharia mecânica e metalúrgica; farmácia; educação e formação de professores; computação; e contabilidade e atuária [5]. Embora nada seja garantido, com inúmeros fatores interferindo numa eventual contratação, há nesses cursos uma chance maior de ocupação.

O financiamento privado seguramente pode funcionar como alternativa para a educação superior. No entanto, o sonho do curso superior com financiamento privado exige, além de muito estudo, algumas cautelas básicas: (i) procurar as instituições parceiras e um financiamento sem pagamento de juros pelo aluno; (ii) ter em conta os custos do curso e o rendimento médio das profissões; e (iii) buscar, entre as suas preferências, um curso com garantia de maior empregabilidade. Uma boa escolha faz o processo valer a pena!

 

[1] Segundo a revista Exame, são três as principais opções de financiamento privado estudantil: o programa Pravaler, com a Ideal Invest, que é correspondente bancário do Banco Bracce S.A. e tem o Itaú como sócio minoritário; o Bradesco; e a Fundaplub, instituição privada que administra programas de financiamento oferecidos pelas próprias universidades a seus alunos.

[2] Com critérios mais rigorosos, o aluno deverá ter nota mínima de 450 pontos no Enem e não poderá zerar a redação. Além disso, do lado do programa, (i) o FIES priorizará algumas áreas, como as de saúde, engenharia e pedagogia; (ii) com cursos de maior qualidade (notas 4 e 5 de avaliação); e (iii) com critérios regionais de distribuição (com preferência pelo Nordeste, Norte e Centro-Oeste). Somente 173 cursos no Brasil – ofertados pelas instituições de ensino privadas – conseguiriam atender os três critérios ao mesmo tempo.

[3] E o número pode ser ainda maior. O novo FIES impõe às instituições de ensino superior um desconto mínimo de 5% para que os alunos sejam beneficiados pelo programa. Tal desconto já vem sendo questionado pelas instituições de ensino.

[4] FUMEC, Estácio, Pitágoras, UNI-BH, Anhanguera, UNA e Newton Paiva.

[5] Não é mera coincidência que estes sejam os cursos com prioridade no novo FIES.

14 comentários

  • Boa tarde. Dei uma lida sobre os financiamentos para o curso de Medicina e ainda sim, estou com algumas dúvidas. Nas perguntas anteriores sobre financiamento privado de Medicina, o blog alegou não achar tão válido devido a dívida. Concordo até o certo ponto em que a pessoa possa fazer o curso sem o financiamento(caso tenha conseguido ProUni, Fies ou SISU). No meu caso, estou em busca de particular de Medicina(em qualquer estado, sou de Belo Horizonte) em que haja o financiamento. Existem várias faculdades, inclusive em BH, que financiam. Sendo assim, minhas perguntas são:
    1) como funciona e quais são os financiamentos para Medicina?
    2) Muito se diz do Bradesco e Pravaler em que se tem o dobro do prazo, ou seja, financia um semestre e tem 12 meses para pagar. No meu caso, meu pai consegue arcar com 5 mil/mensal e teria que financiar o restante. Neste caso, ele irá financiar metade do curso durante os 6 anos e alegam financiamento do curso inteiro mas como seria esse financiamento, já que eu pego 6 meses e tenho 12 meses para pagar? (o valor se acumula? ex: 8 mil mensal. Meu pai financia 4 mil(24 total/semestre). Ele teria que pagar esse valor antes de formar?

    • Bom dia Lucas e obrigado pelo seu contato.

      Sobre a questão 1, veja, o Leandro – autor desse post – não colabora mais conosco e como o post é de 2015, preferimos fazer nova pesquisa para respondermos com mais propriedade, ok? Nos dê duas semanas mais ou menos que voltamos ao assunto, provavelmente com um podcast/post completo sobre o assunto. Fique ligado!

      Sobre sua segunda dúvida, o financiamento pelo dobro do prazo do curso é apenas uma forma de fazer a parcela caber no orçamento da família. Se o banco quisesse receber no mesmo prazo do curso, provavelmente ninguém conseguiria pagar. Já é difícil pagar com o dobro do prazo. Ah, e vale lembrar pelo que me recordo, que pode haver carência, que é um período no qual o devedor não paga nada. No mínimo, obviamente, o período do curso e, em alguns casos, há mais 1 ano ou 1 ano e meio após a formatura.

      No seu caso você não precisa de financiamento para 100% da mensalidade, já que seu pai vai arcar com parte do custo, ou seja, o financiamento será de parte da parcela. Financeiramente esse compartilhamento faz bastante sentido, afinal o risco do financiador diminui.

      Pelo que me lembro, parece que o próprio Pravaler exige que parte da parcela seja paga pela família do estudante durante o curso. Ou seja, que bom que seu pai pode te ajudar, pois não fosse esse o caso, você não se qualificaria para esse programa. Mas como falei acima, vamos nos certificar disso junto às instituições e voltamos ao assunto em breve.

      Finalmente, vai aí abaixo meu alerta. Baseado em cálculo ainda preliminar, pois precisamos confirmar todas as hipóteses utilizadas, veja o tamanho da parcela que você terá de pagar por 12 anos depois de se formar. Não é brincadeira não viu Lucas.

      Mensalidade 8.000,00
      Parcela financiada 3.000,00
      Duração curso 72
      Duraçao empréstimo 144
      Taxa mensal de juros 2%
      Carência (prazo sem pagto) 72
      Dívida ao final de 72 meses -R$483.654,48
      144 parcelas mensais de R$10.265,98

    • Obrigado pelo contato Andressa e nos desculpe pela demora em responder.
      Infelizmente, não temos conhecimento adicional ao que foi colocado neste post.
      Desta maneira, não creio que podemos ajudar.
      Boa sorte em sua busca aí…
      =/

      • Ei Isadora.

        Muito obrigado pelo seu contato e parabéns pelo interesse em estudar e se desenvolver. Isto muito provavelmente resultará em rendimentos futuros maiores, especialmente se a reputação da faculdade for boa. Isso conta muito!

        Agora, apesar de termos a impressão de que a área que você escolheu é promissora, não entendemos do assunto tão bem que podemos cravar que vale a pena. Seria necessário entender ofertas de trabalho para formados, remuneração pré e pós curso para estimar o retorno financeiro do investimento, entende? Infelizmente não podemos te ajudar mais do que recomendar que você investigue nesta linha aí, ok?

        No mais, boa sorte aí com os estudos e parabéns mais uma vez!

        =)

  • Olá, minha filha está querendo fazer o financiamento do curso de biomedicina na Faculdade Estácio de Sá.Gostaria de uma orientação,estou com medo por ser 4 anos e lá na frente trazer problemas para ela .O que você pode nos orientar?

    • Boa tarde Kátia.

      Veja, a Estácio está no grupo de faculdades parceiras do programa Pravaler. Elas bancam integralmente, na maior parte dos casos (especialmente para calouros), a taxa de juros do financiamento. Isto permite aos alunos financiar o curso, pagando-o no dobro do tempo efetivamente cursado, sem juros. A única correção de valor é a aplicação do índice inflacionário (IPCA) sobre as mensalidades. Sendo assim, na ausência do FIES, não nos parece uma má opção, não.

      É claro, que esta avaliação é apenas do método de financiamento. A qualidade do curso, empregabilidade e etc são outros quinhentos. Dever de casa que imagino que vocês já tenham feito.

      Muito obrigado por sua dúvida e boa sorte para a sua filha.

      =)

  • Olá!!! Minha filha está no quinto ano de medicina e por motivos de saúde perdeu o fies e estamos precisando de um financiamento para ela conseguir terminar o curso. Em que vcs poderiam me ajudar??

    • Olá Sueli, obrigado pela sua mensagem.
      Existem outras modalidades de financiamento, porém, são privadas. Com base no viés financeiro, essas modalidades são mais caras que o Fies. Para um período momentâneo, é interessante sim, mas, o que recomendamos é o quanto, o quanto antes, retomar o Fies, ainda mais para medicina para evitar que se acumule uma dívida substancial ao longo do tempo e que será difícil quitar. Tente o PraValer. Não deixe de ter em mente que ela terá o período de residência em que os salários não costumam ser muito altos.
      Abraços,
      Quintiliano Campomori
      Educando seu Bolso

    • Olá Robson.

      O financiamento estudantil privado ainda é bastante impeditivo do ponto de vista financeiro. Programas como o Pravaler são indicados apenas em casos extremos em que o estudante e sua família passam por alguma restrição momentânea, mas não recomendamos financiar um curso inteiro, ainda mais um de medicina. São seis anos de curso com mensalidades que vão de R$4 mil a até R$8 mil. Isso vai fazer que você acumule uma dívida substancial ao longo do tempo que será de difícil quitação, ainda que para um médico bem estabelecido após a formatura. E não se esqueça, que você terá ainda o período da residência no qual terá restrições para obter renda por conta dos estudos.

      Abs

      Eduardo Coutinho

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