Banco Inter lança ações na Bolsa

Estivemos, como de costume, no programa Em Boa Companhia, da rádio Inconfidência. Na volta do nosso amigo Pedro Vieira, que esteve curtindo merecidas férias, mais uma vez falamos sobre contas digitais. O ponto de partida foi a abertura de capital do Banco Inter. Isto é, o início da negociação de ações do banco na B3, a Bolsa de Valores brasileira.

A oferta inicial levantou mais de R$ 720 milhões. A previsão era de que o preço da ação ficasse entre R$ 18 e R$ 23. Ficou a R$ 18,50, isto é, dentro do intervalo previsto, embora próximo ao valor mínimo.

A abertura do capital do Banco Inter é uma notícia importante, que merece toda a nossa atenção. É a primeira fintech – empresa financeira fortemente baseada em tecnologia – a ter ações negociadas em bolsa. Para nós, do Educando Seu Bolso, é uma notícia especialmente interessante. Afinal, temos falado muito sobre contas digitais aqui no blog, e até oferecemos ao leitor nosso Simulador de Contas Digitais. Ele serve justamente para apresentar ao usuário a opção mais barata, de acordo com o que ele precisa.

Agora veja como são as coisas. A negociação das ações do Banco Inter começou no dia 30 de abril, segunda feira. No dia 03 de maio, quinta, gravamos o programa que está no podcast. E no dia 04 de maio, sexta-feira, vieram duas notícias que agitaram o mercado. A primeira é um fato: o Banco Central liquidou o Banco Neon. A segunda ainda estava envolta em mistério, até o dia da publicação deste post: os arquivos do Banco Inter teriam sido invadidos por hackers, e dados sigilosos teriam sido vazados.

Vamos falar um pouco sobre tudo isso.

Banco Neon

Vamos começar falando brevemente sobre a liquidação do Banco Neon. Digo “falando brevemente” porque falaremos detalhadamente sobre isso em outro post, em breve.

Em primeiro lugar, é importante explicar que existem duas empresas: o Banco Neon e a Neon Pagamentos. O Banco Neon é o antigo Banco Pottencial; a Neon Pagamentos é uma fintech, fundada recentemente. Apenas o banco foi liquidado.

“Ah, quer dizer que uma empresa não tem nada a ver com a outra?” Não é bem assim. Elas estão conectadas. O banco não tem participação acionária na fintech, nem vice-versa. Apesar disso, sócios do banco estão entre as pessoas que investiram na fintech como pessoas físicas. São o que se usa chamar de investidores anjo. Além disso, ambos – banco e fintech – têm o mesmo nome, e a fintech usa os serviços do banco para realizar suas operações. Portanto, têm relação, sim.

Porém, o próprio Banco Central, em seu site, afirmou que “as irregularidades encontradas no Banco Neon não estão relacionadas com a abertura e movimentação de conta digital ou com a emissão de cartões pré-pagos, objeto de acordo operacional com a empresa Neon Pagamentos S.A. para estruturação de plataforma de banco digital integrada com a gestão de contas de pagamento.”

Como eu disse, falaremos mais sobre esse assunto em breve. Para o objetivo deste post, basta, por ora, fazer esse esclarecimento. Bola pra frente.

Banco Inter na Bolsa de Valores

O motivo para voltarmos a falar sobre contas digitais no podcast de hoje é a abertura de capital do Banco Inter na B3, a bolsa de valores brasileira. Por que esse fato é tão importante?

Bem, porque, como dissemos, é a primeira empresa que pode ser chamada de fintech a fazer isso. A PagSeguro, empresa de meios de pagamento do grupo UOL, recentemente abriu seu capital na bolsa de Nova York, mas no Brasil o Banco Inter foi o primeiro.

Esse é um passo muito importante para uma empresa. É um sinal de amadurecimento, de disposição para encarar novos desafios. Demonstra a intenção de, além de investir em tecnologia, marketing e operações, investir também em governança. Isto é, em boas práticas de gerenciamento, transparência e relacionamento com os diversos agentes do mercado – clientes, investidores, reguladores, entre outros.

“Quer dizer que devo confiar mais no Banco Inter do que em outras fintechs na hora de escolher minha conta digital?” Opa, não é isso. Ter ações negociadas em bolsa é um sinal de que a empresa se dispõe a crescer e amadurecer, mas não é selo de garantia. Empresas presentes na Bolsa de Valores também podem passar por problemas.

Nosso Simulador de Contas Digitais indica ao usuário aquela opção que atende a tudo o que ele precisa em uma conta, pelo preço mais barato. Mas já dissemos várias vezes, e vamos repetir: é preciso tomar alguns cuidados na hora de colocar o dinheiro em alguma empresa.

Isso vale não apenas para instituições financeiras, mas para qualquer tipo de empresa. Quem não conhece casos de pessoas que compraram apartamento na planta e, antes de receber o imóvel, viram a construtora falir?

Vamos, portanto, falar sobre diferentes riscos a que os clientes de instituições financeiras podem estar expostos, e sobre como se prevenir.

Bancos e a segurança patrimonial

Uma das nossas missões é justamente essa: orientar nossos leitores e ouvintes sobre os cuidados a serem tomados antes de colocar seu suado dinheiro em uma instituição financeira.

A boa notícia é que existem leis e mecanismos de proteção para o pequeno investidor. Isso dá muita segurança e facilita até o nosso trabalho, aqui no Educando. Fica mais fácil explicar.

A principal estrutura de segurança é o FGC – Fundo Garantidor de Crédito. Já falamos muito sobre ele aqui, mas não custa repetir. Veja o que está protegido pelo FGC:

  • depósitos à vista – o famoso dinheiro parado na conta
  • depósitos de poupança;
  • depósitos a prazo – CDB e RDB
  • letras de crédito imobiliário – LCI
  • letras de crédito do agronegócio – LCA
  • letras de câmbio, letras imobiliárias e letras hipotecárias;

Há outras garantias, mas estas são as principais. É importante ressaltar que fundos de investimento NÃO são cobertos pelo FGC.

Portanto, quando você abre uma conta – seja digital ou não –, se seu dinheiro está em qualquer uma das modalidades garantidas pelo FGC, ele estará protegido – até os limites regulamentares. Se a instituição financeira for à falência, seu dinheiro está protegido por um mecanismo seguro e prático.

Corretoras

Outro mecanismo de proteção importante é a lei que regula as corretoras de valores. Quando você investe no Tesouro Direto, em ações, ou mesmo em fundos de investimento por meio de uma corretora, caso ela vá a falência, seu dinheiro NÃO vai embora junto com ela.

O único problema é aquele dinheiro que fica parado na própria corretora. Por exemplo: você transfere R$ 1000 para sua conta em uma corretora, e compra R$ 900 em títulos do Tesouro Direto. Assim, sobram R$ 100 na sua conta na corretora, certo? Se ela for a falência, esses R$ 100 vão embora. Você vai precisar entrar na fila para recebê-lo, durante o processo de liquidação. Mas os R$ 900 dos títulos estão lá no Tesouro, guardadinhos em seu nome.

O mesmo acontece com ações e fundos de investimentos. Os seus investimentos ficam todos em seu nome, independentemente da corretora que você usou para contratá-los. Você pode, eventualmente, até perder algum dinheiro por conta da desvalorização das suas ações ou cotas. Isso faz parte do jogo. Mas não vai perder tudo por conta da liquidação da sua corretora. Não é assim que funciona.

Bancos e segurança tecnológica

Na mesma semana do lançamento das ações do Banco Inter na bolsa de valores, veio a notícia de que os arquivos do banco haviam sido invadidos, e que dados sigilosos – como senhas e dados pessoais – teriam sido roubados. Bem, esse é outro tipo de risco, bem diferente do risco patrimonial.

O banco confirmou que foi vítima de tentativa de extorsão, mas afirma que não houve invasão, nem captura de dados. Disse ainda que comunicou o fato às autoridades competentes, e que a investigação corre em sigilo.

Não é nosso papel, nem nossa intenção, especular o que há de verdade ou de boato nessa história. O que podemos dizer é que qualquer pessoa ou empresa está sujeita a sofrer tentativas de invasão, e que elas podem ou não ser bem sucedidas. Poderíamos listar várias histórias de invasões e vazamentos de dados em empresas de todos os setores e tamanhos, pelo mundo afora.

Eu mesmo já tive meu cartão de crédito clonado mais de uma vez. Já aconteceu também de esvaziarem minha conta em um famoso programa de fidelidade de postos de gasolina. Em todos os casos tive os valores devidamente ressarcidos.

Praticamente todas as empresas que lidam com dados sigilosos tomam diversas medidas contra invasões de hackers. Me diga aí: quantas vezes você não se irritou com o que parece um excesso de zelo do site de um banco ou de uma loja? É um tal de enviar código por SMS, instalar leitor de QR Code no smartphone, biometria, enviar senha por e-mail… Eu tenho conta em um banco digital, e ele faz tudo isso.

Às vezes é irritante, e até atrapalha as pessoas menos acostumadas à tecnologia a usar os serviços. Mas tudo isso é sinal de que as empresas estão atentas aos cuidados necessários.

Minha intenção

O que pretendo, ao dizer isso tudo, não é defender o Banco Inter, ou qualquer outra instituição. É apenas, nessa estranha época em que vivemos, em que fake news aparecem a todo momento, convidar o leitor à reflexão e à serenidade. E tentar impedir que o pânico – muitas vezes injustificado – atrapalhe suas decisões, inclusive as de negócios.

Banco Inter

Fintechs: use com moderação. Mas use.

Na semana passada falei sobre os benefícios da concorrência para o usuário dos serviços financeiros. O que as fintechs representam é justamente isso: concorrência. Mais e mais pessoas e empresas buscando oferecer novas soluções para velhos problemas.

Meu banco digital tem funcionado muito bem. Estou satisfeito com ele e o recomendo. Já contei aqui sobre a ótima experiência de depositar um cheque sem sair de casa. Bastou fazer fotos de frente e verso, digitar os dados e pronto! Cheque depositado.

Muitas contas digitais oferecem o conforto de poder emitir TEDs à vontade, sem pagar nada por isso. Conheço empresas que se livraram de tarifas em contas tradicionais, por conta disso.

Algumas oferecem a possibilidade de emissão de boletos como forma de depósito. Sabe aquele seu amigo que te deve uma grana, e não conta com o conforto de emitir TEDs de graça? Pois é. Você pode emitir um boleto para ele. Assim, basta ele pagar o boleto – sem pagar tarifa por isso – e o dinheiro estará na sua conta um ou dois dias depois.

Por que as fintechs oferecem isso? Será que os executivos delas são mais inteligentes? Será que elas têm mais tecnologia? Não, elas fazem isso porque querem te atender! Os bancões poderiam fazer isso há muito tempo – aliás, devem começar a fazer em breve, imitando as fintechs. Acontece que eles não tinham motivação para isso, porque lhes faltava concorrência.

Além das contas digitais, uma legião de fintechs está chegando ao mercado, oferecendo empréstimos, financiamentos, investimentos, meios de pagamento e até criptomoedas. Repare só em quantos novos nomes você verá surgir no mercado daqui para a frente. E repare também em como os bancos tradicionais vão começar a oferecer serviços novos, melhores e mais baratos. Esta é nossa aposta e, mais que isso, nossa torcida.

Concluindo

A abertura de capital do Banco Inter é um marco importante. Não é nenhuma revolução no sistema financeiro, mas é um sinal de novos tempos. Não há como negar a força das empresas menores e mais ágeis. Aliás, os próprios grandes bancos demonstram enxergar isso, quando imitam – ou mesmo adquirem – fintechs que se mostraram ágeis e bem sucedidas.

Sabemos que as fintechs não estão imunes a crises. Estão sujeitas a falência, invasões, problemas operacionais. Estão sujeitas até mesmo a envelhecer precocemente e passarem a agir como os bancos tradicionais, com todos os seus vícios.

Apesar disso, acreditamos nelas. Não em todas elas, claro, já que são centenas, em breve serão milhares. Mas acreditamos na transformação que elas, coletivamente, podem proporcionar.

Nosso objetivo é que você veja as coisas – as boas e as ruins – no tamanho que elas têm. Nem maiores, nem menores. Que tome os devidos cuidados, mas que não deixe de aproveitar o que é melhor e mais moderno. Pode fazer muito bem!

 

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