Brasileiro precisa começar a construir poupança!

“Trabalhador planeja se aposentar antes dos 65 anos”. Essa é a chamada de uma pesquisa encomendada pela Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FENAPREV) ao Instituto IPSOS. Foram ouvidas 1.200 pessoas, com idades entre 16 e 60 anos, de 72 municípios brasileiros. Segundo o estudo, metade dos brasileiros pretende se aposentar até os 64 anos. Por outro lado, 48% não souberam responder qual seria o valor da aposentadoria que receberiam. Além disso, 60% dos entrevistados consideram necessário fazer uma poupança ou um plano complementar de previdência. Contudo, 55% não foram capazes de informar o percentual do salário que estariam dispostos a poupar por mês para garantir a aposentadoria.

Esses dados são bastante preocupantes. Os resultados evidenciam uma certa contradição no comportamento do cidadão. Percebe-se que, ao mesmo tempo em que a necessidade de garantir um bom fluxo de renda no futuro é reconhecida, existem um imediatismo e uma desorganização financeira, que impõem empecilhos para que esse objetivo seja alcançado.

Neste post, vamos falar sobre estes e outros dados que mostram o brasileiro em posição muito ruim, quando o assunto é preparação para aposentadoria. Por que isso acontece? Você verá que não é só porque somos um país ainda em desenvolvimento. Há fatores comportamentais.

Além disso, falaremos sobre como constituir reservas financeiras de curto, médio e longo prazos. Como separá-las? Em que aplicar? Pretendemos provocar os brasileiros a planejarem melhor sua vida financeira. Além de apresentar dicas bastante práticas para construir uma poupança sólida para o futuro.

Ao final, respondemos uma oportuna pergunta de um ouvinte, que tem um dinheiro para receber e pede sugestões sobre onde aplicar.

A pesquisa do Banco Mundial

O Banco Mundial também fez recentemente uma pesquisa que aborda o planejamento da população para a aposentadoria. O estudo foi realizado com 150 mil pessoas, das quais 1.000 são brasileiras.

Como resultado, concluiu-se que, em 2017, apenas 6% dos brasileiros entre 15 e 24 anos de idade tinham dinheiro guardado para a velhice. Levando em consideração todas as faixas etárias, esse índice foi de 11%.

Nosso país foi 101° colocado entre 144 países pesquisados, ficando atrás de nações muito pobres como Filipinas, Bolívia e Mali. Além de estar abaixo da média dos países em desenvolvimento

Uma questão mais comportamental que econômica

Os dados sinalizam que essa é uma questão comportamental. O Brasil em 101° lugar – e, em outros estudos, ainda pior ranqueado –  demonstra que isso não é apenas consequência da pobreza. Estamos atrás de vários países bastante mais pobres do que nós.

Além disso, estamos abaixo da linha média dos países em desenvolvimento. Não estamos nos comparando com países desenvolvidos ou mais ricos, mas sim com o segmento de que o Brasil faz parte. Portanto, não se pode atribuir esse resultado apenas à condição sócio-econômica.

Aqui no blog vemos exemplos de pessoas que muito cedo, ou ganhando muito pouco, já conseguem se preparar para criar uma poupança para futuro.  Então, o fator socioeconômico pode até pesar um pouquinho. Mas o que essas duas pesquisas apontam, e o que nós também vemos por experiência no Educando Seu Bolso, é que esse comportamento vem de uma mistura de fatores.

Mesmo quando se reconhece a necessidade de poupar para emergências ou mesmo para a aposentadoria, existe uma lacuna que impede a operacionalização desse pensamento. Dentre essas barreiras podemos citar, por exemplo, o despreparo, a falta de educação financeira para o cidadão e de domínio da própria matemática.

Dado o estado calamitoso das finanças públicas do país, as perspectivas são de que daqui a 20 ou 30 anos a capacidade financeira do Estado para prover benefícios sociais será bastante reduzida. Vide todas as discussões que estão acontecendo sobre reforma da previdência. Portanto, é imprudente confiar que lá na frente o governo consiga carregar o peso desse envelhecimento populacional. Mais que nunca, cada um de nós precisa cuidar de seu próprio futuro. E é para já.

Como começar a fazer uma poupança?

Primeiramente é preciso entender que, quando dizemos poupança, não nos referimos à Caderneta de Poupança. Poupança é reserva financeira. Essa reserva pode até ser feita por meio da Caderneta de Poupança, mas também pode ser construída por diversos outros tipos de aplicação.

Dito isso, para construir uma poupança sólida e adequada às expectativas do poupador, é necessário pensar o quanto você precisa para manter seu padrão de vida no futuro.

Pondere os gastos. Se por um lado os custos com plano de saúde, remédios e despesas médicas auxiliares irão aumentar, por outro você vai deixar de gastar com a escola dos seus filhos e viagens muito intensas.

Dá trabalho se planejar financeiramente. Mas é um trabalho que compensa muito, e pode render frutos mais rápido do que você imagina. Para garantir um futuro seguro e tranquilo, ter organização e disciplina é fundamental.

 

Passo a passo para uma poupança bem feita

Aqui no Educando Seu Bolso já escrevemos alguns posts que podem te ajudar a manter suas finanças organizadas, como o Método dos Envelopes. De maneira geral, construir uma poupança estruturada se resume a três passos:

  1. Estabeleça objetivos para o curto prazo e escolha a aplicação mais adequada para isso. Não adianta ter uma reserva de longo prazo, para ser retirado daqui a 30 anos, se você daqui a seis meses precisar capitalizar esse dinheiro para alguma urgência. Se a reserva foi pensada para o longo prazo, utilizá-la no curto prazo pode custar caro. Assim, dê preferência para aplicações mais líquidas, que não vão pesar no bolso e cobrar taxas absurdas para retirar o dinheiro a qualquer momento. Por exemplo,  Tesouro Selic, ou fundos de Renda Fixa e CDB com liquidez diária.
  2. Estabeleça como segundo objetivo uma reserva financeira de médio prazo. Aquele dinheiro que pode ser usado, por exemplo, para trocar de carro daqui a cinco anos. Sempre analisando qual o investimento que mais se encaixa com esse objetivo. Alguns títulos do Tesouro Direto com vencimento no médio prazo, ou CDBs de baixa liquidez podem ser adequados.
  3. Por fim, construa a poupança para a sua aposentadoria investindo no longo prazo. É preciso ter mais paciência com a performance desse tipo de investimento. Aplicações mais arriscadas que podem não performar bem no curto prazo porque foram talhadas para render bem no longo prazo. Na sequência falaremos mais sobre aplicações para o longo prazo.

Dessa maneira, você poderá escolher os instrumentos financeiros mais adequados a cada um dos seus objetivos. Com perfis de risco e  prazo de maturação diferentes. Assim, você vai poder até mesmo buscar uma renda extra ou deixar de fazer um gasto por impulso, por querer estar sempre colocando um pouquinho em cada um desses objetivos.

poupança

“Mas eu não consigo poupar nem para um objetivo, imagina para três”

Esse é um grande desafio para o ser humano: estabelecer metas e se pré-dispor a cumpri-las. É um exercício tanto necessário quanto recompensador, que vai fazer toda diferença no futuro. Obviamente, no começo será preciso dividir pouco dinheiro em três “gavetas”. Mas mesmo que sejam R$10,00, R$20,00, R$50,00, já está valendo.

Se você não tem reserva financeira de curto prazo, deixe de lado a aposentadoria por enquanto. Primeiro crie uma poupança de curto prazo. O Brasil ainda está passando um momento difícil e é fundamental conseguir manter a sua vida mesmo que imprevistos aconteçam.

A poupança permite que você previna e contorne essas intempéries sem precisar tomar empréstimos, que é o que leva muitas pessoas a parar na lista de negativados.

Outras formas de construir uma poupança para a aposentadoria

O teto da Previdência hoje é de R$5.645,81. É bastante possível receber esse valor, ou até mais, mesmo sem contribuir mensalmente para a previdência social.

Uma pesquisa do Banco Central apontou que apenas 1,9% dos brasileiros têm plano de previdência privada. Esse é mais um sinal de como o brasileiro não se prepara financeiramente para o longo prazo. Porém, a previdência privada não é a única – e, em muitos casos, nem a melhor – forma de se poupar para a aposentadoria por conta própria. É possível fazer isso de muitas outras formas.

Para isso, é imprescindível separar uma reserva, começar o quanto antes, mesmo que com pouco dinheiro, e aplicar com segurança. Escolher bem a aplicação e ter disciplina são pontos fundamentais. Se você está aplicando para longo prazo, não é necessário, nem recomendável, ficar olhando o rendimento disso todo dia.

Aqui no Educando Seu Bolso nós temos um Simulador de Aposentadoria gratuito, que te permite saber quanto você precisa investir, dada sua faixa etária, para poder receber esse teto de R$5.645,81. Para aqueles que querem se aposentar mais cedo é possível pendurar as chuteiras antecipadamente com uma reserva financeira própria.

Um alerta para a situação financeira do brasileiro

Alguns outros dados da pesquisa do Banco Mundial valem a pena ser citados.

32,5% da população brasileira conseguiu poupar nos últimos 12 meses. Isto é muito pouco, menos de um terço. Mais uma vez o Brasil está mal ranqueado, 15º entre 19 países americanos, alguns bastante mais pobres do que a gente. Em termos de finanças nós estamos acomodados com uma situação muito ruim.

A pesquisa perguntou ainda aos brasileiros se eles teriam condições de desembolsar R$1.400,00 para realizar uma despesa extra. Como resultado, mais da metade da população brasileira considerou impossível obter esse dinheiro. Nesse quesito o Brasil ficou em 107° lugar, dentre os 144 países pesquisados, sendo que essa quantia (R$ 1.400,00) foi estabelecida tendo como base o PIB de cada país.

Esse é um sinal muito preocupante para as finanças do brasileiro. Isso pode ajudar a entender porque o cheque especial, nomes negativados e taxas do cartão de crédito têm um impacto tão grande no bolso do cidadão.

A pergunta do Rubens

Oi, Frederico.  Eu tenho que receber o reembolso da poupança do Plano Collor e do Plano Verão. Devo deixar esse dinheiro na Caderneta de Poupança?

Agradecemos a participação do ouvinte e ficamos felizes por ele estar recebendo um dinheirinho legal.

Contextualizando, esse é um dos casos em que a correção da Poupança não foi feita devidamente. Os Bancos ficaram com uma boa parte do dinheiro dos poupadores. Alguns deles entraram na justiça e recentemente houve acordo em que os bancos se dispuseram a devolver esse dinheiro.

A Caderneta de Poupança não é a melhor aplicação financeira de baixo risco. Outras aplicações como o Tesouro IPCA+, que tem um pouquinho mais de risco, ou o Tesouro Selic, que no quesito segurança se iguala à Poupança, possuem rendimentos melhores. Além disso, outros investimentos como CDB, LCI e LCA tendem a render um pouco mais e possuem cobertura do Fundo Garantidor de Crédito, de até R$250.000 no vencimento.

Existem também as plataformas de investimento, como as corretoras de valores e os robôs de investimento, que possuem estruturas de aplicações financeiras seguras. Seu dinheiro fica na conta de corretora em seu próprio nome eles não mexem nos seus recursos, mas te dão uma recomendação de investimento.

Sem conhecer o perfil do Rubens seria imprudente dar uma orientação mais detalhada. Mas ficam dois convites para ele. O primeiro é usar nosso Simulador de Investimentos. Ele apresenta algumas das melhores opções em Renda Fixa. É gratuito e muito fácil de usar. O segundo é escrever para nós aqui no Educando Seu Bolso, dizendo bem qual é o seu perfil, quando e para que pretende usar esse dinheiro, para que a gente consiga ser um pouco mais específico.

Conclusão

Os dados não são nada animadores, mas brasileiro que é brasileiro não desiste nunca, e nem deve!

Precisamos começar a correr atrás de uma educação financeira de qualidade, aprendendo desde cedo a importância de construir uma poupança e planejar o futuro. Isso, para que possamos gozar de uma aposentadoria tranquila, com qualidade de vida na velhice.

Nós do Educando Seu Bolso estamos sempre à disposição para dúvidas, sugestões e comentários. Entre em contato com a gente, teste os simuladores e ouça o podcast para saber mais.

 

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2 comentários

  • Frederico.
    Boa noite.

    Você não acha que proibir os cartões de crédito de venderem em parcelas “sem juros” iria gerar conhecimento na população sobre o que é juros na realidade e acabar com esta cultura?
    Financiamento é coisa para financeiras e não para lojistas mas, muitos são obrigados a financiar os clientes em função desta modalidade de venda e o cliente acredita no tal do “sem juros”.

    • Excelente ponto Edward.

      Grosso modo concordo contigo. O incentivo do parcelado “sem juros” é ruim e vai na contramão do que o Brasileiro precisa, que é de parcimônia nos gastos e planejamento financeiro. Onera o lojista, como você disse, pois a maioria trabalha sem capital de giro e precisa antecipar os recebíveis.

      É preciso dizer que há razões para que esta modalidade tenha se tornado tão importante no Brasil, a principal é que ela meio que substituiu os cheques pré-datados (tão comuns por aqui no passado) e é melhor para a economia que estes parcelamentos seja feitos via cartão do que da maneira anterior. Temo que a mera proibição do parcelado sem juros no cartão ressucitaria os pré-datados ou aumentaria ainda mais a importância dos carnês de loja… Entende?

      Finalmente, ressalto que este e outros pontos estão em discussão tanto na CPI dos Cartões, quanto na agenda do Bacen. Mudanças estão por vir!

      Muito obrigado por sua participação.

      Abraço,
      Frederico

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