Se você está em um relacionamento, é provável que enfrente problemas na hora de lidar com as finanças do casal, certo? Como é que vocês administram o dinheiro de vocês? Um sabe quanto o outro ganha? As contas são divididas igualmente no final do mês ou cada um paga a sua? Quem paga as despesas básicas de alimentação, faz as compras, paga conta de luz ou de água? O dinheiro pode estar se tornando um gatilho pra desavenças do casal e você pode nem saber disso ainda.
Você já deve saber que dinheiro é tabu em muitas casas… Discutir e abrir seus problemas ou desconhecimentos financeiros nem sempre é fácil. E, se as pessoas já se sentem inibidas de resolver suas questões financeiras individualmente, isso se potencializa em conjunto. Mesmo por que isso faz parte do relacionamento, não é verdade? Preferências, gostos, desconhecimentos, precisam ser abertamente discutidos, planos e objetivos tem que ser acertados.
Em várias consultorias que prestamos aqui no Educando seu Bolso fica claro que vários relacionamentos acabam por problemas relacionados às finanças do casal. Por isso é importante quebrar essas barreiras… É preciso estabelecer uma dinâmica recorrente, planejada pra estabelecer as finanças do casal como um assunto válido. É justo e é bom pro casal: falar sobre dinheiro com transparência valoriza o relacionamento. E mais importante: há maneiras de fazer isso sem colocar em risco a sua relação, sem brigas ou desentendimentos.
1. Conheça o histórico financeiro familiar do seu cônjuge
Não é incomum que as pessoas, em geral, repliquem o comportamento dos pais, inclusive quando o assunto é dinheiro. Isso pode acontecer porque existe uma admiração grande, os pais foram bem-sucedidos financeiramente estabelecendo um referencial positivo. Por outro lado, há casos em que se constrói um referencial negativo, em que os pais gerenciaram mal os recursos gerando traumas financeiros na família inteira. Mas, mesmo nesses casos, é possível “aprender com o sofrimento”, ou seja, buscar um comportamento oposto ao dos pais devido à experiência traumática.
É importante, principalmente no início do relacionamento, entender como os pais do seu companheiro agem ou agiram financeiramente. Enquanto seu companheiro estiver relatando suas experiências, busque sentir não só objetivamente o que foram essas experiências, mas se preocupe com o tom com que ele fala sobre o assunto, se é positivo e orgulhoso, ou se é um tom negativo, com críticas mesmo que veladas. É possível perceber se aquelas experiências serão estabelecidas positiva ou negativamente, buscando um comportamento distinto ou igual para organizar as finanças do casal.
2. Seja transparente sobre suas experiências financeiras
Transparência é fundamental: se o casal não é sincero em relação a dinheiro, é impossível fazer planos em conjunto. Nesses casos, é preciso saber quanto o casal gasta e ganha junto, e até como esses gastos são distribuídos. Também é preciso saber quais são os gastos prioritários, necessários, e até quais são supérfluos. Só assim é possível saber se falta ou sobra no orçamento e, nesse último caso, como esse dinheiro será aplicado. E mais: em busca da construção de quais sonhos?
Se não existe abertura para que um mostre ao outro quanto ganha ou quanto gasta, é praticamente impossível discutir e planejar como serão as finanças do casal. Claro que existem exceções, quando o casal ganha tão bem ou tem um modo de vida tão simples que o dinheiro acabará sobrando. Esse, entretanto, não é o caso da maioria dos brasileiros.
Boa parte da população brasileira precisa viver com orçamento escasso e, consequentemente, sem muita sobra. Justamente nesses casos é fundamental levar ainda mais a sério a questão da transparência financeira e até do autoconhecimento. Entender como você gasta dinheiro, como toma suas decisões financeiras, é crucial para que seu cônjuge faça o mesmo: é preciso se conhecer e conhecê-lo no âmbito financeiro.
Uma dinâmica para ajudar a organizar as finanças do casal
Muitas vezes, em consultorias de casal, é usada uma dinâmica para verificar se o casal se conhece bem. É praticamente um jogo em que cada pessoa pega uma folha de papel e responde a meia dúzia de perguntas e deve adivinhar a resposta do outro. E acredite, não é incomum que haja um grau de erro grande nas respostas: você acha que conhece mas não conhece. As perguntas são bem interessantes: como seu parceiro gastaria cem mil reais se ganhasse na loteria hoje?
Pode ser que um responda que o outro gastaria uma parte para trocar de carro e o resto seria poupado. Mas, na verdade, a resposta certa seria comprar uma casa de praia. Essa dinâmica acaba por mostrar pontos em que o casal não está tão alinhado como poderia. Imagine, se não há uma concordância sobre os objetivos grandes (como trocar de carro ou comprar uma casa), pode ser que também haja uma discrepância em relação aos objetivos pequenos, como quais gastos diários são mais importantes. Por isso a transparência é importante: ela fará com que as duas pessoas tenham objetivos afinados.
3. Tenha independência dentro das finanças do casal
Hoje em dia não é incomum que as famílias se organizem de formas diferentes, principalmente em relação à vida financeira. Existem arranjos, por exemplo, em que uma pessoa ganha mais do que a outra e as duas, em comum acordo, decidem que um deles cuidará dos filhos enquanto o outro proverá a casa. Supondo que o casal gaste com babá, motorista, etc, e somando tudo, os custos de delegar a criação dos filhos seja praticamente o mesmo do salário de um deles. Nessa situação, pode ser melhor que alguém gerencie a casa e cuide das crianças ao invés de trabalhar fora. Mesmo assim, é preciso preservar também um certo grau de independência financeira dentro do casal.
Estar em um relacionamento pressupõe que exista a vida conjunta e, ao mesmo tempo, a vida dos cônjuges separadamente. Se existe um orçamento conjunto, é preciso que haja um orçamento individual, em que cada um tenha seus gastos sem precisar prestar conta de cada compra. Esse tipo de dependência financeira pode acabar minando o relacionamento…
Por outro lado, uma vez estabelecida a independência dentro do relacionamento, é preciso definir também quanto será destinado para orçamento individual de cada cônjuge. Esse orçamento será liberado para que cada pessoa gaste como quiser, mas se esse orçamento estourar, é preciso esperar até o próximo mês.
4. Divida os gastos proporcionalmente
Uma vez definido que deve existir independência financeira ainda é preciso decidir uma questão: como dividir os gastos em conjunto? Claro que dentro de um relacionamento, uma das pessoas ganhará mais do que a outra, mesmo que isso eventualmente mude. A saída, nesse caso, parece ser a mais simples e prática: quem ganha mais paga mais.
Dividir as contas meio a meio quando um ganha mais do que outro pode acabar desgastando a relação. O casal tem um padrão de vida que, se for dividir tudo meio a meio, vai acabar sobrecarregando uma das partes, e poderá gerar discussões pequenas que, ocasionalmente, reduzirão o padrão de vida dos dois.
5. Criem um caixa único
Uma dica que costuma funcionar bem é a contribuição para um caixa único. Se alguém ganha 10 mil reais e o outro ganha 5 mil reais, a primeira pessoa deverá contribuir com o dobro da segunda. Supondo que a contribuição seja de 50%, quem ganha mais acabará contribuindo com R$5.000,00, enquanto a que ganha menos contribuirá com R$2.500,00. Esse caixa único pode ser uma conta conjunta e é dela que serão retirados os recursos para pagar água, luz, internet, até a escola das crianças.
Se os dois definiram o caixa, os dois têm a senha da conta e sabem como anda a movimentação financeira. O restante pode ser investido em planos de médio prazo do casal, como investimentos, viagens, ou gastos individuais. Esse exemplo é genérico, mas é eficiente para lidar com diferenças salariais e exigir contribuições proporcionais às rendas.
Fazer uma conta conjunta não é indispensável, mas é útil, justamente dentro do contexto em que falar sobre dinheiro ainda é tabu. Criar uma conta conjunta pode ser uma forma de manter a transparência entre o casal, além de ser bastante prático.
6. Marquem uma data para falar sobre dinheiro
Outra dica importante é marcar uma data para falar sobre planejamento financeiro. Separem os gastos individuais do ano anterior, mostrem para o outro e, juntos, tracem as metas do ano presente. Assim fica muito mais fácil fazer um planejamento e até estimar quais serão os próximos gastos. Inclusive é possível evitar, em conjunto, gastos excessivos, como taxas extras de cartão de crédito. Daí há 3 meses, sentem-se novamente, analisem os gastos e façam a avaliação de como as coisas andaram. Se empresas divulgam os resultados trimestralmente pra fazer uma avaliação de como as coisas vão indo, por que o casal não pode fazer isso também?
Além disso, essas reuniões são úteis para evitar gastos domésticos desnecessários, e diminuir alguns, como a energia elétrica, por exemplo. Outra utilidade é a de alinhar planejamentos a longo prazo, como uma viagem no futuro ou até o financiamento de um imóvel.
Assim, dentro desse contexto, ficará claro como andam as finanças do casal e a conta conjunta será muito útil. Muitas vezes, os dois com acesso à conta, e as finanças do casal separadas, será mais fácil ver se a contribuição individual está condizente com os gastos. Nesse caso é possível reajustar os planos, cortar algum gasto supérfluo ou mesmo aumentar a contribuição.
Por outro lado, a conta conjunta também pode gerar riscos. Se um dos dois é empresário, por exemplo, e se houver uma ação trabalhista na justiça em que haja bloqueio da conta individual, até a conta que é conjunta será atingida. Se as contas fossem individuais, e a conta da pessoa física acionada na justiça for bloqueada, a conta da outra pessoa pode ser uma forma de manter os gastos domésticos protegidos. Mas é claro que essa também é uma situação específica, que deve ser analisada caso a caso.
Como ficam as finanças do casal com filhos?
Se o casal tem filhos, a divisão de gastos também deve ser proporcional? Bom, os filhos são responsabilidade de ambos e, por isso, seus gastos também devem ser divididos. Inclusive, nas dicas anteriores, os custo de escola, curso de línguas e até do material escolar também devem ser considerados.
Por outro lado, gastos supérfluos servem para colocar em discussão o que é realmente necessário. Se todos concordam que escola ou médico são gastos necessários, também existem gastos que podem causar divergência no casal. A mãe pode, por exemplo, querer dar um presente, e o marido pode discordar disso (ou vice-versa), mas ela pode optar por esse gasto, sem que o dinheiro saia do caixa único.
Unir os recursos acaba evitando brigas pela falta da conversa, principalmente se o casal já costuma discutir assuntos financeiros. Fica mais fácil ver como o orçamento evolui e, consequentemente, é mais fácil estabelecer metas. Trazer os supérfluos pra discussão financeira pode ser muito construtivo, inclusive, no estabelecimento de prioridades sobre os gastos dos filhos.
E se algum dos dois está desempregado?
Infelizmente, o Brasil é um país que tem mais de doze milhões de desempregados. Em um casal, se um dos dois fica desempregado, é natural que o orçamento fique mais pesado pro outro. É claro que, pela natureza do relacionamento, a primeira e óbvia sugestão é a da solidariedade. Em um relacionamento é preciso que haja solidariedade na dor para que as finanças do casal não fiquem prejudicadas.
Por outro lado, existe um limite para tudo. Se chegou ao ponto em que uma das pessoas perdeu o emprego, mas não se esforça pra se reempregar, cuidado! A discussão não é mais só financeira, um dos cônjuges pode perder o respeito e admiração pelo outro como pessoa. E pode até se questionar: essa realmente é a pessoa com quem eu quero passar o resto da minha vida?
Se a questão não é mais se conseguiu ou não o emprego, mas se está se empenhando, talvez seja necessária terapia de casais e não terapia financeira. Mesmo nesses casos é importante lembrar que reservas pessoais podem ajudar muito, e é preciso sempre mantê-las em vista. Elas podem ajudar na divisão do orçamento familiar sem afetar a autoestima individual ou a dinâmica do casal.
Enquanto isso, a porcentagem de contribuição no caixa único pode ser reajustado. Aquele que continua com o orçamento estável pode passar a contribuir mais, mas mantendo o estimulo e valorização do outro. Dessa forma é possível reorganizar as finanças do casal, sem desgastar o relacionamento com brigas desnecessárias, e ao mesmo tempo fazer planejamento financeiros como fazer um financiamento de imóvel ou até mesmo um investimento.