10 desvantagens que mesmo um bom consórcio pode ter!

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Recentemente chegou à mídia a campanha de uma importante instituição financeira brasileira, que, pelo visto, decidiu investir mais pesadamente na venda de consórcios. Logo, objetivo deste texto é explicar brevemente como funciona um consórcio e, principalmente, fazer alertas quanto a seus riscos.

Primeiro, mostraremos os riscos inerentes ao produto. Isto é, aqueles que estão em sua natureza, mesmo quando a instituição que vende o consórcio gerencia tudo com competência e idoneidade. Depois, os riscos ligados a desinformação e má fé. Que, infelizmente, são muito comuns. Basta ver os altos índices de reclamações nos Procons, no ranking do Banco Central e em sites de reclamação.

Então, se você pensa em adquirir um consórcio, não deixe de ler o texto até o fim.

 

Antes de começar, entenda a campanha

Na principal peça da campanha, estão dois amigos andando de carro e acontece o seguinte diálogo:

– Passageiro: “Carro novo, é?”
– Motorista e dono do veículo: “Você não vai acreditar”

Então, ele começa a falar das vantagens do consórcio. E, em todas as vezes em que vai dizer “consórcio”, algum ruído externo impede que se ouça o que ele diz. A estratégia é conhecida: a instituição assume que há algo de maldito no produto, e tenta desconstruir essa má fama.

O dono do carro prossegue: “Sem juros e sem entrada” e “não precisei nem comprovar renda”. E eis aí dois pontos importantes que ilustram a má fama dos consórcios. O que há de “maldito” é justamente o que é “mal dito”. Por trás dessas supostas vantagens há detalhes importantes que nem sempre são explicados por quem tenta vender o produto.

De fato, consórcio não tem juros, nem entrada. Mas tem outros componentes que podem ser muito piores que juros e entrada. Quanto a “não precisar comprovar renda”, no momento em que o dono do carro fala sobre isso, aparecem no filme as letrinhas minúsculas, “Sujeito a análise e aprovação de crédito. Consulte condições”. Que, claro, ninguém lê enquanto vê a propaganda.

Então, vamos a explicação de como funciona o consórcio e as 10 desvantagens dessa modalidade de compra!

 

O que é um consórcio e como funciona?

O Educando Seu Bolso já publicou muito conteúdo sobre consórcios. Vai aqui, portanto, um resumo sobre como funciona essa modalidade. O suficiente para que você possa entender o básico e consiga enxergar onde moram os perigos.

Você sabe o que é consórcio? Descubra aqui!

 

Autofinanciamento

Segundo o site do Banco Central, consórcio é a reunião de pessoas em grupo, com prazo e número de cotas previamente determinados, promovida por administradora de consórcio, com a finalidade de propiciar a aquisição de bens ou serviços, por meio de autofinanciamento.

Vamos entender tudo isso, usando um exemplo prático, para facilitar a compreensão.

Uma administradora de consórcio é uma instituição cujo funcionamento deve ser autorizado pelo Banco Central. Ela pode promover a venda de consórcios de diversos produtos e serviços, como automóveis, máquinas, imóveis, pacotes de viagens, entre outros.

No nosso exemplo, suponhamos que a administradora decida organizar um consórcio de automóvel. A administradora não define exatamente a marca e o modelo, e sim um valor, representado pela carta de crédito. Suponhamos, então, que o valor seja de R$ 50 mil.

Ela vai, então, organizar um grupo. No nosso caso, ela define que o prazo será de 50 meses, e oferecerá 100 cotas. Isto é, 100 partes de um condomínio, que serão vendidas a pessoas físicas ou jurídicas. Uma mesma pessoa pode adquirir mais de uma cota.

Se a carta de crédito é de R$ 50 mil e o prazo é de 50 meses, cada cotista precisará contribuir com R$ 1000 por mês para a arcar com a carta de crédito. Mas isso é apenas o começo.

 

Fundo comum e outros custos

Esses R$ 1000 pagos por cada cotista vão compor o chamado fundo comum do grupo. Isto é, o valor suficiente para custear apenas as cartas de crédito, que possibilitarão a aquisição do bem pelo cotista. Por isso, o fundo comum pode também ser chamado de fundo de aquisição.

Mas a administradora, evidentemente, tem custos para gerenciar o grupo. Ela precisa pagar impostos, salários, custos administrativos, comissões de vendas, propaganda etc. Além disso, ela é uma empresa, por isso precisa ter seu lucro. Todos esses custos são repassados aos cotistas por meio da taxa de administração.

Além dessa taxa, as administradoras normalmente exigem que os cotistas contratem seguros para proteger as operações. E podem também compor um fundo de reserva para prover mais segurança para o grupo. Por exemplo, caso alguns cotistas deixem de arcar com suas obrigações, o fundo de reserva ajuda o grupo a se manter sólido, sem comprometer suas operações.

Vamos supor que, no nosso exemplo, a administradora tenha calculado que todos esses custos representem 20% do valor da carta de crédito. Portanto, além dos R$ 1000 destinados ao fundo comum, cada cotista precisará contribuir com mais R$ 200 mensais.

Sorteio e lance

O momento em que o cotista recebe sua carta de crédito é chamado de contemplação. A forma mais comum de contemplação é o sorteio. No nosso exemplo, em todos os meses um cotista é sorteado para ter acesso à carta.

Outra forma muito comum de contemplação é o lance. Na maior parte dos casos, é uma espécie de leilão. Cada cotista que deseja participar do lance oferece um determinado valor além da sua prestação. Aquele que oferecer o maior valor será contemplado. Então ele paga o valor do lance para a administradora e recebe sua carta.

No nosso exemplo, a administradora decidiu que, todos os meses, procurará contemplar 1 cotista por lance. E aqui o verbo é “procurará”, porque ela não é obrigada a realizar a contemplação por lance, caso o grupo não tenha recursos suficientes para isso. Por exemplo, caso muitos cotistas estejam inadimplentes.

A carta só poderá ser utilizada para aquisição de bens do mesmo tipo a que o grupo se destina. Ou seja, uma carta de crédito de grupo de automóvel só pode ser usada para aquisição de automóvel.

 

Atualizações monetárias

O valor da carta de crédito normalmente é reajustado periodicamente. Isso permite que os cotistas contemplados por último consigam adquirir o bem que desejavam quando contrataram o consórcio. As atualizações ocorrem por índices de inflação definidos em contrato, e variam de acordo com o bem ou serviço a que o grupo se refere.

 

Vínculo

Mesmo que um cotista seja contemplado no início do grupo, ele evidentemente continua tendo obrigações para com aquele grupo. E, ainda que ele não deva mais nada ao grupo – por exemplo, caso tenha dado um lance que quite todas as suas prestações futuras – ele continua juridicamente vinculado ao grupo.

 

Resumindo

Vamos, então, ver como ficou nosso grupo.

São 100 cotistas, cada um pagando R$ 1200 por mês. Duas contemplações por mês, uma por sorteio e outra por lance, cada carta de crédito valendo R$ 50 mil. Taxa de administração e outros custos representando 20% do crédito.

100 cotas x R$ 1.200 = R$ 120 mil por mês arrecadados pela administradora.

2 cartas de R$ 50 mil cada uma = R$ 100 mil pagos pela administradora nas contemplações.

Sobram R$ 20 mil, equivalentes a 20% do valor das cartas, destinados a custos e lucros.

Não tem como dar errado, não é?

:-/

Bem… vamos ao próximo assunto?

5 coisas que você precisa saber antes de contratar um consórcio!

 

10 Desvantagens dos consórcios

Infelizmente, tem, sim, como dar errado. Neste capítulo vamos fazer alertas sobre riscos inerentes ao negócio. Isto é, os riscos naturais. Aqueles que existem mesmo que a administradora seja um primor de competência e idoneidade – o que nem sempre acontece, como veremos no próximo capítulo.

Vamos passando, item por item, todos os pontos que falamos anteriormente.

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1° Desvantagem: Autofinanciamento

Você viu que o consórcio funciona por meio de grupos que realizam autofinanciamento. Aqui está o primeiro problema.

No nosso exemplo, o grupo é dividido em 100 cotas. Ou seja, pode ser a reunião de 100 pessoas diferentes. Cada uma com seu perfil, suas condições, seus problemas e, claro, seu senso de responsabilidade e sua boa ou má fé.

Em um grupo de consórcio, cada cotista depende de todos os outros. Em um grupo de 100 cotistas, se um ou dois deixam de pagar suas prestações, pode ser que o fundo de reserva consiga garantir a continuidade das contemplações. Mas se 20 ou 30 deixam de pagar, esse grupo provavelmente terá problemas.

Boas administradoras podem reduzir esse risco no momento da venda das cotas, se fizerem uma boa análise de crédito. Mas, ainda assim, não o elimina completamente. Por isso, até mesmo as boas administradoras estão sujeitas a risco.

Lembra da propaganda que citamos no início do texto? O dono do carro fala com o amigo que não precisou nem comprovar renda. Mau sinal. A Circular nº 3.432 do Banco Central diz, em seu artigo 7º, que “a viabilidade econômico-financeira do grupo de consórcio […] pressupõe, no mínimo […]a verificação da capacidade de pagamento dos proponentes quanto às obrigações financeiras assumidas perante o grupo e a administradora”.

Ou seja, se uma administradora oferece consórcio sem comprovação de renda e sem análise de crédito, merece desconfiança. O risco de que isso dê errado é altíssimo.

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2° Desvantagem: Fundo comum e outros custos

Na mesma propaganda, o dono do carro diz que o consórcio é “sem juros e sem entrada”. Esse é um argumento de vendas bastante comum. O que está por trás dessa fala é uma comparação entre consórcio e financiamento.

Os financiamentos têm juros. E o consórcio, como você viu há pouco, de fato não tem juros. Mas tem outros custos. Principalmente a taxa de administração, que pode ser tão alta quanto os juros – ou até mais alta.

Na obra de Shakespeare há uma cena famosa em que Julieta diz a Romeu: “Se a rosa tivesse outro nome, ainda assim teria o mesmo perfume”. No nosso caso, se o encargo tem outro nome – juros ou taxa – ainda assim teria o mesmo efeito. É um dinheiro que vai e não volta mais.

Por isso, não faz sentido dizer que consórcio é melhor que financiamento simplesmente porque não tem juros. O que importa é avaliar, em cada caso, o impacto da taxa de administração ou dos juros no custo total pago pelo cliente.

A própria norma do Banco Central traz um alerta quanto a isto. A Circular nº3.558 diz que, na prestação das informações necessárias à tomada de decisão por parte dos consorciados, “as taxas e valores cobrados nas operações de consórcio não devem ser comparados com as taxas e valores cobrados nas operações de crédito”.

Portanto, cuidado com argumentos de venda que existem por aí.

 

3° Desvantagem: Sorteio e lance

Uma pessoa que compra consórcio deve ter em mente que o acesso à carta de crédito não está sob seu controle. Mesmo que o regulamento do grupo preveja uma ou mais contemplações por lance por mês. E mesmo que a pessoa tenha um bom valor para oferecer como lance.

Primeiro, porque, ainda que o regulamento preveja, pode ser que o lance não ocorra em determinado mês, como você viu anteriormente. Além disso, mesmo que o valor do lance seja alto, nunca se sabe se outro cotista não oferecerá um lance ainda mais alto.

Portanto, quem compra consórcio não pode se esquecer: nada pode garantir a contemplação imediata, ou com prazo certo.

 

4° Desvantagem: Atualizações monetárias

Você já sabe que as cartas de crédito de consórcio estão sujeitas a atualização periódica, seguindo algum índice de inflação. Isso serve para preservar o poder de compra da carta ao longo do tempo. Viu também que o índice de inflação adotado nesta atualização varia de acordo com a natureza do bem a que o consórcio se refere.

E significa, claro, que as prestações do consórcio também estão sujeitas a essa atualização. Desnecessário explicar que isso pode significar um risco importante em períodos de inflação alta.

E é um risco ainda mais significativo, caso o índice de inflação específico do bem se descole de outros índices. Por exemplo, caso o índice adotado pelo consórcio seja o IGPM, e este fique significativamente mais alto que outros índices, como o IPCA. Nesse caso, pode ser que a prestação do consórcio aumente, e o salário da pessoa fique estacionado.

 

5° Desvantagem: Vínculo

Vimos também que o consorciado permanecerá vinculado ao grupo, mesmo depois de sua contemplação.

Isso pode significar um risco, por exemplo, se levarmos em conta o item que acabamos de mencionar: as atualizações monetárias. Imagine um consorciado que acabou de ser contemplado, e que ainda tenha prestações a pagar por muitos anos pela frente. Ele permanecerá vinculado ao risco de inflação durante todo esse período.

Mas não é só isso. Caso a pessoa adquira a cota de um consórcio e desista da operação no início, ela terá direito a receber de volta tudo aquilo que pagou para o fundo comum. Porém, precisará esperar ser sorteada para ter acesso a esse valor. Caso o grupo tenha prazo longo, ela poderá precisar esperar muito anos até ser sorteada e finalmente receber o dinheiro. É algo a ser levado em conta antes de contratar.

Financiamento ou consórcio imobiliário: Entenda as armadilhas!

 

Outros riscos

No capítulo anterior, vimos os riscos inerentes à natureza do consórcio. Isto é, riscos que são inevitáveis, mesmo que tudo corra bem com o grupo. Isto é, mesmo que a administradora proceda com toda a eficiência e lisura.

Neste capítulo, vamos falar sobre riscos ainda mais sérios. Vamos ver situações em que a falta de informações corretas e claras pode causar transtornos sérios para quem adquire uma cota. E, nesse caso, não se trata apenas de riscos provocados pela administradora, mas também por quem vende a cota.

Isto porque muitas administradoras mantêm convênios com empresas especializadas apenas na venda das cotas. E, em muitos casos, estas empresas, na intenção de vender mais cotas, deixam de orientar corretamente os clientes, causando aborrecimentos e danos.

 

6° Desvantagem: Propaganda enganosa

Nos sites especializados em reclamações e nas várias unidades de Procon espalhadas pelo país, é comum vermos relatos de pessoas que compraram consórcio sem saber direito o que estavam fazendo.

Um tipo de ocorrência comum tem sido o de representantes que anunciam em sites a venda de um bem em condições vantajosas – sem informar que se trata de consórcio. Um interessado, então, atraído pela boa oferta, entra em contato com o vendedor. Ao receber o contato, o vendedor diz que o bem anunciado já foi vendido, mas que há outros em condições igualmente vantajosas.

O vendedor mal intencionado, então, informa as condições do negócio de forma parcial. Omite, principalmente, que a oferta é de consórcio. O candidato a comprador geralmente deseja o acesso imediato ao bem, pensa estar negociando um financiamento. Recebe a informação sobre os valores das prestações como se fossem as de uma operação de crédito. Em muitos casos, infelizmente, o negócio é fechado sem que a pessoa sequer saiba que adquiriu um consórcio.

“Ah, mas a pessoa precisa ler aquilo que está assinando”. Sim, sem dúvida, isso é verdade. Porém, na prática, as coisas nem sempre acontecem dessa forma. As técnicas de venda de um vendedor habilidoso, a informação prestada incorretamente, a baixa capacidade de compreensão de parte da população, o grande volume de papéis a serem lidos no momento da contratação e o desejo da pessoa em comprar o bem, combinados, compõem um cenário que tem feito muitas vítimas por todo o Brasil.

 

7° Desvantagem: Avaliação de crédito

Vamos, novamente, mencionar a campanha publicitária de que falamos no início do post. O feliz proprietário do veículo fala para o amigo que “nem precisou comprovar renda”. Naquele caso, as letras miúdas pelo menos fazem o alerta: “Sujeito a análise de crédito”. Ou seja, trata-se apenas de publicidade com pouca transparência.

Porém, existem vendedores de consórcio que realmente não fazem uma análise de crédito adequada no momento da venda da cota. Para entrar no grupo basta assinar uma pilha de papéis e, claro, pagar a primeira prestação e, possivelmente, alguma taxa extra. O problema é que, no momento da contemplação, será feita uma nova análise. Esta, sim, bem mais rigorosa.

A explicação para isso é simples. No momento em que entra em um grupo, o cotista não representa risco algum. Ele ainda não recebeu a carta de crédito. Enquanto não for contemplado, ele apenas paga prestações. Não deve nada ao grupo. Pelo contrário, ele é um credor, o grupo é que deve a ele.

Mas, quando está para ser contemplado, a situação muda. Ele estará prestes a receber todo o valor da carta de crédito, e ainda terá pela frente prestações a pagar. Ele se torna devedor do grupo.

Por isso, é importante que a administradora faça uma nova análise de crédito. Isso é para o bem do grupo. Afinal, entre o momento da entrada no grupo e o da contemplação, podem se passar alguns anos. Nesse meio tempo, é possível que a situação financeira do cotista tenha se deteriorado. Por isso a administradora precisa analisar novamente sua capacidade de honrar seus compromissos.

 

Alerta!

A prática de realizar duas análises de crédito – uma na entrada, outra na contemplação – é normal, e até saudável. O problema para que estamos alertando aqui é a falta de informações claras no momento da venda.

Essa história de “não precisei comprovar renda” é um perigo.

Primeiro, porque um grupo que não exige comprovação de renda corre sério risco de ficar insolvente. Então, nem se fosse verdade seria uma boa notícia.

E, segundo, porque a análise de crédito na entrada pode evitar dores de cabeça para todos. É grande o número de pessoas que procuram um consórcio sem saber se têm condições de arcar com os compromissos. Pessoas que veem um anúncio, olham o valor da prestação, imaginam que aquilo caiba em seu orçamento, e decidem contratar. Mas não se trata apenas de a prestação caber no orçamento. Na vida financeira de uma pessoa, muitas coisas podem acontecer. A análise de crédito serve justamente para tentar prever a condição da pessoa em arcar com os compromissos no presente e no futuro, caso algum revés aconteça com ela.

Ou seja: ser reprovado em uma análise de crédito em alguns casos pode ser bom. Pode evitar problemas. E vice versa: ser aprovado na análise, em alguns casos, pode ser a semente de problemas futuros. Portanto, cuidado com certas facilidades que às vezes se vê por aí.

 

8° Desvantagem: Promessa de contemplação

Uma característica muito comum nas reclamações contra administradoras de consórcios é em relação a vendedores que prometem contemplação imediata.

Em muitos casos, o comprador sabe que está adquirindo um consórcio, mas não sabe que, nessa modalidade, não existe garantia quanto ao prazo de acesso ao bem. O vendedor lhe assegura que, caso oferte lance de um determinado valor, a contemplação será imediata.

Como você já sabe, não é possível ter essa certeza. O vendedor sabe disso, mas, ainda assim, vende essa ilusão ao cliente, na intenção de concretizar uma venda.

E há situações em que o comprador sabe que há algo errado, mas ainda assim aceita participar. Vamos explicar melhor.

Um dos procedimentos de segurança da administradora, quando uma cota é vendida por um representante terceirizado, é telefonar para o comprador, para se assegurar de que ele está ciente das condições do negócio e que a venda foi feita da maneira correta. No telefonema, que é gravado, a administradora faz diversas perguntas. Caso as respostas indiquem algum problema, a venda é cancelada.

 

Então, como a venda não é cancelada?

O esquema consiste em o vendedor explicar ao cliente que a promessa de contemplação é proibida pela administradora, mas que existem meios de driblar o sistema e garantir a contemplação imediata. O vendedor alega saber secretamente o valor necessário a ser ofertado no lance para garantir a contemplação imediata. Mas, para que o esquema funcione, o cliente precisará mentir no telefonema, quando for perguntado se recebeu promessa de contemplação.

Ao mentir para a administradora, o comprador produz prova contra si mesmo. Ele reduz a condição de se defender, pois afirma ter ciência de todas as condições do consórcio, e não ter recebido qualquer promessa de contemplação.

Por isso, o melhor é evitar vendedores que fazem promessas de contemplação.

 

9° Desvantagem: Cota contemplada

A chamada cota contemplada é, como o próprio nome diz, uma cota de consórcio que já tem condições de ser contemplada. Isto é, que foi sorteada, ou venceu uma oferta de lance, e está pronta para acessar a carta de crédito.

Em muitos casos, o proprietário de uma cota contemplada prefere vendê-la, em vez de acessar o crédito. Afinal, dependendo da situação, ela pode ser bastante vantajosa para quem compra e, portanto, valiosa para quem vende.

Vamos explicar isso a partir de uma ilustração prática, usando o exemplo que vimos usando neste post. Um grupo com prazo de 50 meses, prestações de R$ 1.200, e carta de crédito de R$ 50 mil.

 

Explicando…

Suponhamos que o cotista tenha sido sorteado na 10ª assembleia. Portanto, ele já pagou 10 prestações, e ainda faltam 40. Ou seja, já pagou R$ 12 mil, e ainda faltam R$ 48 mil a serem pagos em 40 meses.

Assim, ele tem uma carta de crédito de R$ 50 mil, pronta para a contemplação, e uma dívida de 40 prestações de R$ 1200.

Se ele vender esta cota pelos mesmos R$ 12 mil que pagou nos 10 primeiros meses, não terá lucro nem prejuízo. Afinal, simplesmente recuperará o valor que já pagou. Quem comprar a cota nessas condições terá em mãos um crédito líquido de R$ 38 mil (ou seja, os R$ 50 mil da carta, menos os R$ 12 mil pagos pela cota) e uma dívida de 40 prestações de R$ 1200.

Ora, um financiamento nessas condições – R$ 38 mil a serem pagos em 40 prestações de R$ 1200 – equivaleria a uma operação de crédito com taxa de 1,2% ao mês.

Essa taxa é mais baixa do que a maioria dos financiamentos oferecidos no mercado. Portanto, seria muito vantajoso para quem comprasse a cota. Por isso, o dono da cota poderia pedir mais do que os R$ 12 mil para realizar o negócio. Digamos que pedisse R$ 15 mil. Assim, além de recuperar os R$ 12 mil pagos pelas prestações, lucraria R$ 3 mil.

Para quem comprasse a cota nessas condições, seria como contratar um financiamento de R$ 35 mil (ou seja, os R$ 50 mil da carta, menos os R$ 15 mil pagos pela cota), para pagar em 40 prestações de R$ 1200. Equivaleria a uma operação com taxa de 1,6%. Ainda seria mais barato do que boa parte dos financiamentos oferecidos no mercado.

Portanto, seria uma operação lucrativa para as duas partes. Quem vende lucra R$ 3 mil, e quem compra estaria contratando uma operação possivelmente mais barata do que encontraria em bancos.

 

Pode isso?

A grande pergunta que as pessoas fazem é: venda de consórcio contemplado é permitido? A resposta é: sim.

As normas de consórcio permitem que um cotista venda sua cota a outra pessoa. Independentemente de ela estar ou não contemplada. Existem regras para isso, claro. Mas é uma operação permitida.

Portanto, existe, sim, venda de cota contemplada. O que não existe é almoço grátis.

O que queremos dizer com isso? Que não há nada errado, em princípio, com alguém anunciar a venda de cota contemplada. Porém, se você vir uma oferta de cota contemplada extremamente vantajosa, é preciso desconfiar. Se for apenas um pouco vantajosa, como no exemplo que vimos há pouco, tudo bem. Mas muito vantajosa, é mau sinal.

É comum que pessoas mal intencionadas tentem atrair vítimas para seus golpes anunciando cotas contempladas.

Pode ser, por exemplo, uma falsa promessa de contemplação. A vítima compra a cota, pensando que está pronta para ser contemplada, mas na verdade não está. Quem compra precisaria ainda ser sorteado, ou oferecer um lance.

Há por aí inúmeras ofertas de venda de cotas contempladas – existem até sites especializados nisso. Pessoas interessadas em comprá-las precisam, antes de qualquer coisa, pesquisar junto à administradora se aquela cota de fato está pronta para contemplação, se está desimpedida de quaisquer ônus ou impedimentos, se quem está anunciando a venda é realmente o dono da cota. Enfim, deve pesquisar tudo sobre a cota.

Tão importante quanto isso é verificar as condições da análise de crédito feita pela administradora. Afinal, a pessoa que está comprando evidentemente precisa passar pela análise antes de ser contemplada. A administradora precisa fazer isso, pelo bem da saúde do grupo. Portanto, não adianta a pessoa adquirir a cota, é preciso saber se terá, de fato, condição de ser contemplada.

 

Cuidado!

Por isso, cuidado com cotas contempladas. Elas existem e são legalizadas. Porém, são muitos os cuidados a serem tomados para que a negociação seja bem sucedida. Não confie em ofertas irresistíveis, extremamente vantajosas, pois, isso sim, não costuma existir.

 

10° Desvantagem: Antecipação de taxa

Você já sabe o que é a taxa de administração contida em uma prestação de consórcio. Sabe também para que ela serve: para possibilitar que a administradora arque com seus custos e obtenha seu lucro.

As normas de consórcio permitem que uma administradora antecipe parte das taxas de administração para o início de um grupo. A justificativa é que alguns custos são realmente mais altos no início. Despesas de divulgação, instalação do grupo, comissões de venda entre outros.

O problema é que essa informação nem sempre é passada para o cliente de forma transparente no momento da venda. Em muitos casos, a antecipação é feita de forma exagerada, injustificada e o pior, sem a devida comunicação.

Relatos em sites de reclamação e unidades do Procon mostram que, muitas vezes, é cobrado um valor alto para a entrada em um grupo. O cotista pensa estar aportando todo aquele montante no fundo comum. Ou, até pior, pensa que poderá usar o valor para oferecer um lance. Mas, na verdade, está apenas pagando taxa de administração antecipada.

 

O que acontece se eu desistir de um consórcio?

O problema fica mais grave quando, por algum motivo, o cotista se arrepende e desiste de fazer parte do grupo. O valor pago em taxa de administração não é devolvido para o cotista – apenas o fundo comum é ressarcido. Então, caso desista do consórcio, o cotista terá um grande prejuízo.

Por isso, ficam aqui dois importantes alertas:

1° Alerta: Antes de entrar em um grupo, é preciso que o cotista tenha muita convicção de que aquilo é adequado para ele, e que provavelmente não vai desistir no meio do caminho.

2° Alerta: É preciso saber exatamente o quanto representa a taxa de administração em cada pagamento que realiza. Caso haja alguma dúvida, é preciso exigir que o vendedor – ou a própria administradora – tenha a máxima transparência e clareza.

 

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Devo contratar um consórcio?

Agora você sabe mais sobre consórcios. Viu, no início do texto, que a ideia em si tem suas virtudes. E, nos capítulos seguintes, viu diversos riscos envolvidos no produto.

A primeira conclusão a que podemos chegar é: para quem precisa de acesso imediato ao bem, o consórcio não é a opção mais adequada. É até possível conseguir uma contemplação rápida, dependendo do volume de dinheiro disponível para oferecer em um lance. Mas, de toda forma, é impossível ter certeza de que a contemplação acontecerá no momento desejado.

Além disso, viu que um fator a ser levado em conta é que o consorciado assume um compromisso longo. Não apenas com a administradora, mas com todos os outros consorciados – e que isso pode ser um problema.

Viu também que existem riscos próprios da natureza do negócio – mesmo quando ele é gerenciado com competência e lisura. E, principalmente, conheceu diversos outros riscos decorrentes da falta de transparência que, infelizmente, tem sido comum nas negociações de consórcios.

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Se ainda tem alguma dúvida sobre consórcio, ou se quer contar alguma experiência boa ou ruim com esse produto, deixe seu comentário. E conte sempre conosco!

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18 comentários

  • Bem explicado! Os lances vencedores são superiores a 55% do bem , acho estranho pagar a taxa total de administração sob o valor do lance. É como se eu pagasse “juros” por um valor que eu antecipei. Não entendo isso.

    • Bom dia, Max!

      Concordamos com você, essa é uma das desvantagens do consórcio. E normalmente, quem contrata um, muitas vezes nem tem conhecimento disso!

      Se também quiser nos ajudar, gostaríamos de pedir um testemunho sobre o nosso trabalho no linkedin, que assine nossas mídias sociais em youtube, instagram, twitter ou facebook e que compartilhe nosso conteúdo ou clique nos nossos links sempre que possível. Isso não custa nada pra você e nos auxilia a continuar ajudando um montão de gente.

    • Bom dia, Luiz!

      Muito obrigado pelo seu comentário, ficamos felizes que o nosso conteúdo tenha sido útil para o seu aprendizado financeiro! Se também quiser nos ajudar, gostaríamos de pedir um testemunho sobre o nosso trabalho no linkedin, que assine nossas mídias sociais em youtube, instagram, twitter ou facebook e que compartilhe nosso conteúdo ou clique nos nossos links sempre que possível. Isso não custa nada pra você e nos auxilia a continuar ajudando um montão de gente.

  • Atuo no mercado de consórcio a muito tempo, e sempre importante deixar as coisas claras !
    Já ajudei muitas pessoas a conquistarem seus bens , pois não tinha renda para financiamento e muito menos ser aprovados pelo sistema de financiamento tradicional, gostei muito na parte ” ATENÇÃO AOS MAOS PROFISSIONAIS, tem muitos por aí …..tem tomar muito cuidado, mas o consórcio é uma operação muito segura – siga me no instagram renato.queiroz_12.

    Obrigado foi muito útil as informações mencionada aqui!

    • Que bom que gostou, Renato. Opinião qualificada, de alguém que atua no mercado de consórcios há muito tempo!

      De fato, o consórcio pode ser o veículo de inclusão financeira e de mudança de comportamento, em direção de maior capacidade de poupança. Tem razão!

      Esperamos ter ajudado. Se também quiser nos ajudar, gostaríamos de pedir um testemunho sobre o nosso trabalho no linkedin, que assine nossas mídias sociais em youtube, instagram, twitter ou facebook e que compartilhe nosso conteúdo ou clique nos nossos links sempre que possível. Isso não custa nada pra você e nos auxilia a continuar ajudando um montão de gente.

  • Saudações!
    Eu tenho uma grande dúvida relativo à correção da carta e consequente parcelas do consórcio após o lance, se puderem me ajudar agradeço. Para melhor expor minha pergunta vou colocá-la em forma de exemplo, com números: adquiri uma carta no valor de 300 mil, corrigiu passou a 311 mil, dei lance e ganhei, de 60% : 186 mil, retirei os 311 mil, sendo 125 mil do fundo comum do consórcio e 186 mil foram meus recursos entregues por meio de lance. Pergunto: a continuação da correção da carta no que se refere a mim, e consequente correção das parcelas do consórcio será sobre 125 mil que eu saquei do fundo comum do consórcio, ou será sobre o total de 311 mil, ainda que desses 311 mil, 186 mil sejam recursos próprio? Desde já agradeço.

    • Bom dia Maria Celeste.

      O valor base para qualquer cálculo em um grupo de consórcio é o valor do bem, seja contemplação, seja correção. Inclusive, se você reparou em nossos conteúdos, ressaltamos diversas vezes essa desvantagem. Ou seja, você usou 125mil mas vai pagar taxa de administração e fundo comum e fundo de reserva por exemplo sobre 311mil.

      Corrige-se o valor o bem, divide-se pelo número de parcelas (duração do grupo) e tem-se o valor das parcelas. Seu lance entra na conta como uma antecipação de parcelas futuras, assim como em uma amortização antecipada de um financiamento imobiliário reduzindo o prazo. Na grande maioria das vezes o contrato é regressivo, ou seja, o lance amortiza parcelas da última até aquela coberta pelo pagamento, mas não é obrigatório (há casos em que a amortização é progressiva, e o consorciado fica um tempo sem pagar). No caso mais comum há efetivamente a redução do prazo, mas o valor do lance deve quitar fundo comum, taxa de administração, fundo de reserva e demais encargos. Há vantagem para o grupo e administradora que antecipam receita.

      Espero ter ajudado. Se também quiser colaborar conosco, gostaríamos de pedir um testemunho sobre o nosso trabalho em linkedin, que assine nossas mídias sociais em youtube, instagram, twitter ou facebook, que compartilhe nosso conteúdo ou clique nos nossos links sempre que possível. Isso não custa nada pra você e nos auxilia a continuar ajudando um montão de gente.

      Brigadão.

      =)

    • Bom dia, Ricardo!

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      Eduarda Ferrari
      Equipe Educando Seu Bolso

  • Sou vendedor de consorcio e vim buscar mais imformaçoes sobre a minha aréa e estou bastante contente com oque aprendi hoje é muito importante saber sobre seu produto e agradeço o material espero mais como esse! muito didatico abraços

    • Boa tarde, Lucas!

      Que bom que você gostou do nosso conteúdo e que conseguimos te ajudar através dele, nós ficamos extremamente felizes quando recebemos comentários como o seu!

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    • Olá, Rafael!

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      Abraços,

      Eduarda Ferrari
      Equipe Educando seu Bolso

  • Muito bom esse artigo. Obrigado por compartilhar esse conhecimento.
    Deixo aqui apenas um feedback que certamente melhoraria minha experiência no momento da leitura – ter imagens e gráficos – com intuito de deixar o artigo ainda mais didático.

    • Que ótimo ler isso, Rafael.

      Vamos tentar usar mais elementos gráficos sim de agora em diante. Obrigado pela sugestão.

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  • Muito obrigada por este conteúdo incrível! Ficou muito claro para mim, agora sei exatamente o que fazer e já vou, claro, pesquisar sobre o livro! Parabéns!!!

    • Olá, Vivi.
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      Jéssica Moreira
      Equipe Educando Seu Bolso

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